17 abril 2012

4. SOBRE ONIBUS, CÃES E JUMENTOS

Pierre é um pastor alemão do qual se conta uma história curiosa aqui em Genebra. Dizem que todos os dias úteis ele acompanha seu dono até o escritório. Os dois saem logo de manhã cedinho, do bairro onde residem, na periferia e vão caminhando (cachorro caminha?) até o entro, perto do lago. Chegando lá, o dono do cão sobe para o trabalho e Pierre volta para casa. Sozinho.

De ônibus!

E paga passagem e tudo. Aqui cachorros podem usar o transporte público, pagando meia passagem. Devem ficar sempre deitados aos pés do dono, bem quietinhos – e assim são vistos, pequenos e grandes. Mas sozinhos, dizem que só o Pierre. Parece que os motoristas já estão acostumados com ele, que entra e deita lá na frente, e espera que os motoristas abram a porta para ele descer no ponto certo. Dali ele vai para casa, onde entra não sei bem como. Talvez tenha uma chave, sei lá (espera-se tudo dos cachorros daqui), ou saiba bater a campainha. Pode até ser que more em apartamento e saiba subir de elevador....

A famosa educação suíça chega aos cachorros, sim. Num dia desses eu estava almoçando em um bistrô quando entra um senhor de idade com seu poodle. Sentam-se lado a lado, em um banco de uma mesa perto da janela, bem quietos. O dono pede o plat du jour – almôndegas com batatas e cenouras. Chega o prato e o senhor vai se servindo e dando bocadinhos na boca do cachorro, que come como gente fina. Os dois nem conversam, entretidos com a refeição. Ninguém repara na dupla, só eu, que como dono de cachorro também, tenho de prestar muita atenção mos hábitos e regras vigentes na cidade.

A Luna está demonstrando que a educação se adquire, até a canina. Por exemplo: antes ela cheirava e comia de tudo o que achava no chão nas nossas caminhadas; agora, bem mais educada, só come o cocô dela mesma. Não deixa mais comida espalhada pela casa; está mais comportada mesmo. Há uns dias roubou um pedaço de pizza de cima da mesa e enterrou em um vaso de cheflera da Mari, para comer mais tarde, na hora certa da refeição. Boa menina!

Só me preocupei no dia em que ela apareceu com um bicho alado morto na boca. Entrei em pânico! E se alguém visse e pensasse que foi ela que matou o passarinho? Do jeito que eles são por aqui, poderiam querer sacrificar o animal, ou quem sabe, o dono! Joguei o finado no lixo, em outro bairro, é claro, e me livrei de uma punição certa.

O cuidado com os direitos dos animais é muito grande por estas bandas. Vide o Pierre. E tem mais!

Li em um jornal uma notícia inusitada. Em uma comuna do cantão de Vaud (do qual Lausanne é a capital), uma senhora foi impedida de entrar no ônibus com seu bichinho de estimação: um jumento! Ela argumentou, com razão, que não havia nada na lei local que proibisse jumentos de usar o transporte público (o que era verdade) – e que tinha comprado até uma passagem inteira para o bicho... Mesmo assim, tiveram de descer do ônibus: injustiça! Alguns dias depois o conselho comunal expediu uma nova norma especificando que animais podem fazer uso, acompanhados dos donos, de trens, ônibus e barcos que circulam no cantão.

Notei que a norma não fala nada sobre animais desacompanhados... Acho que vou ensinar a Luna a pegar o bonde sozinha para ir ao veterinário ou ir de bicicleta passear no parque!

 * leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo

5 comentários:

  1. Oi Tonho.
    Adorei o teu blog, assim ficamos acompanhando as tuas aventuras....to louca pra saber da fuga do hospital, hehehehe! Beijão, Ilana

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  2. Oi Simão!
    Também estou curiosa para saber como foi sua fuga. Já estou até imaginando os helicópteros sobrevoando a região do hospital, os carros de polícia e bombeiro cercando as ruas e várias enfermeiras espalhadas pelo bairro com sua foto em mãos te procurando! Hihihi! E você saindo do hospital, bem tranquilo, fantasiado com as roupas do seu companheiro de cela, o MadMax!!!!!!!! Ahahahah!

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  3. Adorei a crônica. Gostaria que os bichos fossem tratados assimno Brasil.

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  4. Muito animal esta sua crônica, Simão!

    Estes suíços são muito bem regulamentados, previsíveis e quadrados...:))

    Divirta-te com tantos contrastes! E a nós, também.

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  5. Olá Simão,
    em primeiro lugar gostaria de parabeniza-lo pelo excelente blog( me identifiquei em várias linhas).

    Fiquei sabendo e ( li a lgumas crônicas ) do seu livro na semana passada no Salão da Neyre & Simão, sua esposa( muito simpática) estava lá e mostrou o livro imprimido! No tempo de preparar meus longos cabelos, foi super agradavél ler algumas crônicas...Gostaria de saber se por acaso poderemos comprar algumas tiragens e sim onde ?
    Muito obrigada,
    Alana Nastasi

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