30 julho 2012

15. UM BOM CONSELHO.


Genebra, feito uma ilha, é um pedaço de terra suíça cercada de França por todos os lados.

Está ligado à Suíça propriamente dita apenas por um fiozinho de terra na direção de Lausanne e pelo lago, que também é francês em boa parte. Até para chegar ao Valais no lado sul do lago é preciso passar por um pedaço da França antes de entrar na Suíça novamente.

Encravado em território francês, falando francês, acelerando partículas subatômicas entre os dois países e até mesmo produzindo vinho francês, o cantão de Genebra é um pedaço de terra gaulesa que veio parar molhar os pés no lago e viro suíço - e eu nunca ouvi uma explicação convincente para isso.

Estranha situação, que não é apenas geográfica. Vai ver que é de propósito, para a Confederação Helvética ir se livrando aos poucos de Genebra e passando esse abacaxi para a nação vizinha, junto com todos os diplomatas e técnicos dos organismos internacionais que pesam no bolso dos suíços desde a Liga das Nações.

Estas instituições foram as responsáveis pela formação do caráter internacional de Genebra, que é uma cidade cosmopolita. Aqui se ouve de tudo nas ruas: inglês, português, sudanês, turco, hindi e até francês, de vez em quando.

Mas já não são mais os diplomatas e funcionários de colarinho branco que dão esse tom colorido à cidade: é a quantidade de candidatos a trabalhador que aporta todos os dias no cantão, onde é muito fácil entrar como turista e ir ficando, ilegalmente é claro, indefinidamente, pegando o trabalho que pintar.

Contei em outro post que tive de obter o passaporte europeu de animais para a Luna, minha nova ‘cã’. Quando fui buscar o tal passaporte uma senhora que fazia a limpeza no consultório da veterinária me falou:

- Pronto, painho... Eu já estou aqui faz dez anos e ainda não tenho meus ‘papel’... e sua cachorrinha que tem só quatro meses de vida já tem até passaporte!

Triste realidade onde os cães têm mais direitos que as pessoas, pensamos ambos, em silenciosa sintonia.

É facilmente observável o forte fluxo de trabalhadores pouco (ou nada) qualificados, que vêm para cá em busca de uma vida melhor ou do sonho de fazer um pé-de-meia e voltar para seu país depois de uns anos ralando por estas bandas.

Há também um razoável contingente de trabalhadoras do sexo, vindas da nossa pátria-mãe ou de outro pais europeu. Nesse caso, não me atrevo a falar nada sobre sua qualificação profissional ou seu domínio da língua...

Seja como for, não parece ser um negócio tão bom, o das raparigas. Certo dia ouvi uma moça conversando alto no seu celular, em bom ‘brasileiro’, enquanto fazia compras em uma grande loja de departamentos. A não ser que ela estivesse simplesmente querendo se livrar da concorrência, me pareceu um bom conselho:

- Não, amiga, não venha não... Aqui é tudo caro prá caramba! A gente dá, dá, dá e não consegue guardar dinheiro...

28 julho 2012

14. TRIBOS BRAZUCAS 1ª parte.

É bem interessante observar a paisagem etnográfica brasileira em Genebra. Até onde eu pude perceber, são três as grandes tribos brazucas aqui.

A primeira é a tribo, cada vez mais numerosa, dos brasileiros que aportam em terras genebrinas em busca de trabalho, ou melhor, de dinheiro. Não está incluída aqui aquela pequena minoria que vem em busca do seu próprio dinheiro, nos bancos suíços.

A segunda é mais high end, composta pelos diplomatas e pelo pessoal que vem trabalhar por uns tempos nos organismos internacionais com sede em Genebra, como a OMS (Saúde), OIT (Trabalho), WIPO (propriedade intelectual) a Cruz Vermelha e dezenas de outras. Essa tribo sofre críticas dos suíços porque não paga impostos mas se beneficia de todos os serviços públicos – o que, convenhamos, não é justo, mas quem está nessa categoria diz que essa é uma boa fórmula para o governo não desperdiçar os seus impostos: basta não recolher nada.

Um bom número de executivos, engenheiros e técnicos de empresas multinacionais com filiais no Brasil também cabem nesse primeiro grupo – mas esses pagam (imagino) seus impostos e levam uma vida à parte das outras tribos.

A terceira é a tribo dos turistas e estudantes “de intercâmbio” (sinônimos, para todos os efeitos). Vou comentar todas em posts próprios, começando hoje com a primeira, a dos ‘brazucas’.

Esta tribo é a mais corajosa. A maioria não fala nada de francês - nem de alemão ou italiano, idiomas oficiais, ou de inglês, a língua franca dos expatriados. Poucos sabem alguma coisa sobre o país para onde estão vindo e, sem falar o idioma e sem qualificação, só conseguem os trabalhos que não demandam expertise, geralmente braçais, sazonais, flutuantes, como o de diarista, ajudante de cozinha, mão de ajuda nos vinhedos e similares. Vida dura – mas, como disse um recém chegado, “comparada com o quê?”

Depois de um certo tempo aqui, alguns partem para a prestação de serviços para os demais brasileiros e tem até quem montou seu próprio negócio. Para cada um que deu certo, no entanto, existem vários que deram com os burros n’água; mas isso não é nada diferente do que acontece no Brasil e assim o pessoal não se abate e parte para outra, na terrinha brasilis ou em outros locais extranacionais.

Por falar em negócios, soube de um caso interessante. Os suíços são um povo tão estranho que nem as crianças gostam de coisas doces. Já os brasileiros... Duas brasileiras montaram aqui um negócio que parecia muito promissor: fazer doces para festas infantis. Pesquisaram e vira m que não havia nada de doces para aniversários, nem nos supermercados, nem nas panificadoras ou mesmo nas chocolaterias, só alguns bolos ruins e sem graça. Compraram então panelas e ingredientes, fizeram um panfleto e logo tiveram a primeira encomenda.

Depois dos parabéns, as crianças atacaram os docinhos e ... cuspiram tudo, no chão, nas paredes e nas outras crianças, fazendo caretas como se tivessem comido jiló (ou o equivalente deles)!

Acharam insuportavelmente doces os lindos brigadeiros, dois-amores e cajuzihos tão caprichadamente preparados pelas meninas com as receitas de suas avós (já falecidas, coitadas, diabéticas e obesas). As moças faliram por choque cultural.

Outras iniciativas dão muito certo: um dos empregos em alta é o de pastor – já tem muitos por aqui, pastoreando esperanças e sonhos dos emigrados. O de pinguceiro também, pois a ‘caipirina’ é um drink bem popular nos botecos da região

Depois de alguns anos nestas quebradas, muitos brazucas desenvolvem um estranho dialeto, uma mistura inusitada de português brasileiro, com expressões regionais, francês, inglês e outras menos cotadas. Um exemplo, que ouvi com esses ouvidos moucos:

- Seu Antonio, to aperreado. Não deu pra mim chegar antes porque eu já tava no bus quando vi que tinha esquecido a minha carte d’abbonement e tive de voltar lá no parking onde eu tinha ido fazer um replacé no weekend. Aí tive de pegar o tram, descer na place ali do lado da Mairie e vir picando a mula. No caminho ainda passei no marché e comprei uns produits de bricolage pra gente ajeitar umas coisinhas na salle de bains ... Se o senhor puder me voltar la monnaie, eu agradeço beaucoup!

16 julho 2012

13. O MISTÉRIO DAS ‘TROIS SEMAINES’



A pontualidade suíça não deve ser confundida com a britânica. Os britânicos contam o tempo em segundos; os suíços em blocos de três semanas.

É fácil constar isso, depois de algum tempo morando aqui. Qualquer serviço, público ou privado, demora exatamente três semanas para ser realizado. Ou múltiplos dessa medida.
Fui descobrindo aos poucos esse curioso traço da personalidade local.

Uns dois meses depois da nossa chegada, fomos visitar algumas lojas de automóveis para conhecer os modelos, preços e prazos. Eu comecei a estranhar quando na terceira revenda seguida me disseram que o carro demoraria três semanas para chegar na loja. Que coincidência, pensei eu. Depois vi que era uma resposta padrão, que todos os revendedores usavam meio sem pensar, quase automaticamente.

Bem, finalmente escolhemos uma boa oferta e, conformados com o prazo de entrega, aguardamos pacientemente as três semanas previstas e fomos buscar o carro. Beleza, pensei, agora é só ver com eles onde emplacar e sair dirigindo. Que nada. Fui avisado que só poderíamos tirar o carro dali depois de emplacado. E quanto tempo demora isso? perguntei, inocentemente. Adivinhem a resposta: três semanas, é claro... E foi esse o tempo que nosso novo veículo ficou ali, branquinho e brilhando, não em um pátio qualquer, mas bem no centro da loja, aguardando placa e paciência.

Coisas semelhantes foram acontecendo nos meses seguintes, em inúmeras outras situações, desde entrega de encomendas, vistoria de seguros,  conserto de aquecimento – e até mesmo na policia, onde uma amiga foi registrar a perda de uma carteira com documentos.

É melhor a senhora esperar um pouco antes de dar queixa, madame. Pode ser que alguém encontre sua carteira e entregue em um achados e perdidos. Por favor, aguarde umas três semanas e retorne aqui, se necessário. Bon jour!

Para que não restasse qualquer dúvida de que coincidência alguma, em todo o universo, poderia explicar esse fenômeno, teve mais essa.

Depois de, é claro, três semanas, um senhor apareceu lá em casa para instalar TV a cabo e acesso à internet. Estudou fiação e cabeamento e me disse, educadamente, que não iria poder terminar a instalação pois faltava um conector para a versão HD do pacote que tínhamos comprado. Não se preocupe, me disse ele, todo atencioso. Vou fazer o pedido agora e volto assim que a peça chegar, em....

- ... três semanas! disse eu, no ato.

Desculpe, eu não sabia que o senhor já era nosso cliente... Que bom, o senhor já está bem familiarizado com os nossos procedimentos!

Sim... e como ! pensei com meus botões.

É assim até em coisas que são do interesse das próprias empresas e pessoas, como no envio de cartões, entrega de contas e cobrança de faturas.

Duas tentativas de explicação vieram à minha mente, antes de eu atinar com outra mais plausível.

A primeira é histórica: baseia-se em um número mágico talhado em um menir a gerações e gerações pelos druidas das primeiras tribos helvéticas, os doidos que passaram os Alpes vindos sabe-se lá de onde. Conta a lenda que a tribo, gelados e cansados pela escalada, parou para descansar à beira de um dos lagos e todos pediram um chocolate quente para se esquentar. Como a beberagem demorou três semanas para ser servida, os três sobreviventes resolveram ficar e nunca mais foram embora. Daí a prática do prazo padrão, desde os fundadores.

A segunda é mais científica: trata-se de pura programação genética. Está escrito no DNA suíço e  eles não podem fazer nada a respeito, pois são gens hereditários e dominantes. Descobriu-se que são ativados na terceira semana de vida, quando o bebê descobre que chegou a hora da primeira mamada.

Isso explica por que os suíços investem tanto em pesquisa genética: andam querendo descobrir uma forma de ampliar a influência daqueles gens para quatro semanas, ganhando um tempinho para os imprevistos.

A terceira é mais mundana: são sempre três semanas porque duas semanas é pouco tempo para se fazer qualquer coisa, na Suíça. Tudo aqui é devagar, quase parando. Ou melhor, parado – só anda depois de ..... nem vou dizer para não ficar repetitivo.

A paciência  é equipamento de sobrevivência por estas bandas. Sei disso, mas uma vez quase perdi a dita cuja. Foi quando um técnico apareceu, pela terceira vez, para fazer medições visando a instalação da fibra ótica prometida pela companhia há tempos. Virou, mexeu e me disse que teria de retornar para finalizar o serviço.

- O senhor não vai me dizer outra vez que vai demorar mais três semanas, não é? – falei, vermelho pelo esforço de conter o berro indignado.

Ele colocou a mão no queixo, me olhou calmamente e me disse, meio à inglesa:
- Não senhor, fique tranqüilo. Penso que seria seguro, diria até bem razoável, o senhor não esperar a instalação em prazo menor do que um ano...

Ah, que alivio! Se ele tivesse dito “oui, trois semaines” eu não esperaria o prazo regular: teria esganado o homem ali mesmo, na hora.

Mas como tudo é feito na maior civilidade e você é sempre tratado com toda a educação, fica bem difícil reclamar da demora inexplicável e injustificável. Como ralhar em altos brados com uma senhora delicada e atenciosa, que diz tão  civilizadamente para você:

- Meu caro senhor, pode voltar daqui a três semanas que já (sic) teremos a bateria do seu relógio trocada. Desolada, estamos com muitos serviços nessa época... mas não se preocupe, a nova é de excelente qualidade!

Não dá para rebater assim:

- Não se incomode, madame, estou meio com pressa e por isso vou eu mesmo até a China buscar uma bateria nova, mesmo que seja de segunda linha”.

Ou com a secretária do cardiologista que diz, toda solícita:

- Sim, senhor, compreendo bem. Essa arritmia não é nada boa.. Já que é urgente, pode vir em três semanas que o doutor vai lhe atender.

É melhor resistir à tentação de responder:

- Obrigado pela gentileza, mademoiselle. Terei prazer em comparecer, se estiver vivo até lá... Caso contrário, agradeça ao doutor por mim, d’accord?




* leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo

07 julho 2012

12. TURISTAS

Quero dizer logo de cara que tem várias coisas que eu sei que sou, mas não me sinto. Isto é, não sinto ser certas coisas que sei que sou. Dentre elas: velho, brasileiro, rabugento – e turista.

Velho, vou me sentir só quando meu meio de transporte oficial (e único!) for um daqueles triciclos elétricos para gente grande. Brasileiro, eu? Não tomo café, não jogo futebol, não curto sol nem calor, não gosto de festa e não me visto de verde e amarelo para ver um jogo da seleção na TV... Rabugento? Se sou, como tantos dizem, tenho dúvidas; me sinto um pouco crítico em excesso, moderadamente.

Viajando de férias, não escapo de ser turista, mas não me julgo como tal. Sei que sou, mas não me sinto. Fico sempre observando aqueles seres estranhos, os turistas, (compostos de cabeça, tronco, membros e câmera) e seus gravadores ambulantes, os guias.

Eu gosto muito das igrejas góticas e sempre que posso vou visitar uma delas. O problema é que os turistas, ao encherem as igrejas em blocos barulhentos, seguindo um guia papagaiando informações inúteis, tiram qualquer possibilidade de uma experiência estética em qualquer lugar.

Por isso eu me ajoelho e rezo. Quem me vê pensa que eu sou uma pessoa bem religiosa. Mas não sou, não! O que eu rezo é algo assim: “Senhor dono dessa igreja, perdoai a minha chatice assim com não perdoo os que me têm incomodado; livrai-me das excursões e seus guias tagarelas e não me deixeis cair na tentação de entrar na lojinha na saída....”

Eu até gosto de dar uma olhada nas arapucas pega-turista montadas na saída de igrejas, museus e afins,em busca de preciosidades. Afinal, poucas obras de arte superam em impacto uma miniatura de Notre Dame, em gesso made in china, com a inscrição “eu estive em Paris” em letras vermelhas iluminadas a pilha.

Certa vez ganhei de presente de uma pessoa querida que tinha passado pela Polônia um busto de Chopin, de cara amarrada e olhar acusador, encostado em uma cabeça de cavalo que saía de um teclado de piano. Surreal mesmo. Até entendi a cara do homem: qualquer um estaria puto da vida em ser representado daquele jeito! Eu acho que a minha expressão não foi muito diferente quando abri o pacotinho e desembalei o presente...

Fora das lojinhas, identificar um turista em Genebra é a coisa mais fácil do mundo. Ba sta ver quem está com jeito de estar procurando algo por toda parte, sem achar. Olha para cá, olha para lá, para cima e para baixo, anda, volta para onde esteve, consulta um guia, olha em volta, consulta o guia de novo com cara de quem está achando que está na cidade errada... Pode escrever: é turista, coitado!

Ele demora um pouco para sacar que as descrições e fotos do guia que tem em mãos é que não correspondem à realidade que está observando. O livro é tão colorido! Mas a cidade que ele vê é toda cinza. Arrumadinha, pintadinha, parecendo um cenário. Um cenário pintado apenas com duas ou três latas de tinta: cinza, beije e um ocasional rosinha pálido ou amarelinho desmaiado.

Eu prefiro as cidadezinhas italianas, bem coloridas (cores fortes, vivas, em combinações corajosas), pintura velha e descascando, janelas caindo das dobradiças, roupas secando em varais esticados sobre a rua, gente berrando (dizem que estão apenas falando italiano) de uma casa para a outra. Autêntica decadência!

Reconheço que ser turista em Genebra não é nada fácil. Uma vez visto o lago e seu jato d’água, vai encontrar pouca coisa que valha a pena vir de longe para ver, socado em um ônibus de excursão, na companhia de atraentes nonagenárias tagarelas usando talco de alfazemas do século retrasado ou daqueles perfumes que ardem no nariz e deixam a roupa da gente tão "perfumada" (se alguém tem o azar de encostar em uma das moças) que não sai nem lavada com vinagre. Não é para qualquer um.

Não digo que não existem coisas bonitas aqui. Há muito verde, parques cuidados, canteiros com flores, rios limpos, ruas tranquilas, casarões escondidos em bairros sossegados ou pendurados nas encostas do lago, mas para quem vem procurando pontos turísticos equivalentes aos de outras cidades européias, Genebra vai deixar na mão.

Sua mais famosa atração, o Jet d’Eau, é uma cascata às avessas, água que sobe do lago para o ar como se o lago fosse uma enorme bexiga cheia de água que tivesse sido furada - isso quando seus operadores decidem ligá-lo, segundo esquemas que ninguém adivinha. Ouvi um turista brasileiro, mineiro pelo jeito, dizer para a companheira ao ver o famoso jato:
- É isso aí, é? Mas é só um repuxo metido besta, sô!

Claro que é bonito de se olhar o tal esguicho ao longe, enquadrado pela cidade e com as montanhas dos Alpes e do Jura ao fundo, em dias de céu azul e sem vento. Mas dias assim são raros e os turistas precisam de muita sorte para que aconteçam justo quando estiverem de passagem por aqui, para fotografarem-se em frente ao famoso jato. É mais seguro ir logo comprando um postal no aeroporto e depois fazer uma montagem no photoshop (como no filme Amelie Poulin). Afinal, todo cartão postal tem um ar de irrealidade.. .

Tirando o lago e o jato, o que resta? Bem, tem também o relógio de flores, igualzinho a tantos outros, bem sem sal. O legal é quando está sem flores, como no momento. Aí sim é uma atração original: um relógio de não-flores!

Tem ainda a cidade velha, pequena e escondida, com sua feia catedral há séculos sendo desfigurada por padres sem noção. Para os que gostam de compras, há uma rua de pedestres por onde trafegam inúmeros bondes, ônibus e bicicletas. De vez em quando até passam alguns pedestres, que devem ser turistas desavisados. Se preferirem, podem ir a um shopping popular, mas aviso que só vão encontrar duas redes de lojas, que ocupam o shopping todo: uma tal de SOLDES e sua concorrente SALE, ambas com preços de amargar.

O passeio de barco no lago Leman é muito popular. Penso que é porque os turistas querem sair logo de Genebra, mas como têm de esperar a excursão, tentam matar o tempo pulando em um bateau e indo visitar as villages da beira do lago. Coitados, não sabem o que os espera! O passeio começa em uma vila que se vê em quinze minutos, mas o turista acaba tendo de esperar duas horas pelo próximo barco que o levará para repetir o ciclo nas próximas cidadezinhas, sem nada de nada para fazer além de contar patinhos e roer as unhas.

Eu já tinha reparado que vez em quando chega alguém molhado no píer, mas não sabia por quê. Agora sei que esse turista resolveu voltar a nado, preferindo o risco de morrer afogado ou congelado do que de tédio.. .

Enquanto escrevo, me dizem por cima do ombro que estou fazendo propaganda negativa de Genebra. Beleza! Se funcionar, serão alguns turistas a menos na fila para comprar chocolate!


* leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo