O verão já está
começando a invadir a primavera. Horrível!!!
Alem do calor,
detestável como sempre, com o verão vem toda espécie de praga: moscas,
mariposas, pernilongos, vespas – e vizinhos.
Minha sorte com
vizinhos é sempre estatisticamente exata: 50%. Onde quer que eu vá, sei que
metade dos meus vizinhos vai ser gente decente, que fica na sua, em casa, sem
querer amizade ou bate-papo furado. Mas metade vai ser
insuportavemente extrovertida, amistosa, receptiva, alegre ... e barulhenta.
Nem aqui em Genebra
eu consegui fugir dessa regra. De um lado temos (eu acho) vizinhos suíços: nunca
os vejo, sequer os ouço. Perfeitos!
Do outro lado,
porém, tenho um casal de ursos com dois ursinhos. Ou quatro marmotas. No
inverno, acho que hibernam, pois não vejo ninguém colocar o nariz para fora,
jamais. Esquentou um pouco, porém, e eles saem da toca, felizes e contentes,
invadindo o próprio quintal, onde ficam dia e noite brincando com as crianças
(onde já se viu!) conversando (não sei como têm tanto assunto) e fazendo churrasco,
ou seja lá o que eles assam na grelha. O pior é que cantam e tocam violão e
atabaques, numa mistura cacofônica de salsa, rumba, reggae, axé e aparentados. Muito
barulho até para mim, que sou tão tolerante com isso.
Do lado oposto,
continuavam silenciosos até a semana passada. Tão silenciosos que eu até pensei em
dar uma olhada para ver se não tinha ocorrido um daqueles assassinatos em série,
roteiro de tantos filmes e livros que se passam por estas bandas. J a tinha imaginado até um carro da polícia científica estacionando em frente de casa - que emocionante! Mas emprestei
o estetoscópio da Mari, grudei na parece e consegui ouvir, bem distante mas
claramente, sons de pessoas conversando. Alivio...
O sossego durou
pouco, porém. Veio o início do verão e os meninos montaram sua mesa de pingue-pongue
no quintal, bem embaixo (ou quase) da minha janela. E dá-lhe pingue de cá,
pongue de lá, pongue-e-pingue-e-pongue por horas a fio... Ainda bem que, suiçamente, param de jogar e dobram
a mesa antes das 22 horas. Não fosse isso, e talvez eu fosse capaz de implicar
com eles - se fosse ranzinza como dizem. Como não sou, coloco tampões nos
ouvidos, vou ler no porão e nem reclamo. Só resmungo.
São coisas como
estas que me levam a detestar cada vez mais o verão. Eu realmente não
compreendo as pessoas que ficam felizes quando o sol mostra sua cara
antipática, torrando peles e carecas e o céu esconde suas lindas nuvens onde
ninguém as pode ver. O vento e a garoa,
intimidados por tanto brilho, também se escondem e me deixam com saudades dos
dias frios e cinzentos, muito mais civilizados.
Eu ia dizer “mais
curitibanos”, mas lembrei que, para meu horror, sei de alguns curitibanos que
também gostam de sol, calor, céu azul e todas as horríveis coisas que vêm junto
com o verão. Renegados!
Desconfio que
aqueles que gostam do verão, alem de não ouvirem bem (não se incomodam com
o barulho) não têm o sentido do olfato muito desenvolvido também, pois parecem
imunes aos “aromas” da estação - corporais e ambientais - dentre os quais se
destacam o lixo com cascas de camarão e a nauseabunda combinação de suor, bronzeador e colônia "acqua fresca".
Não dá para agüentar, nem a céu aberto e com vento!
Aqui em Genebra,
evito a beira do lago nessa época. Está cheia de flores, cachorrinhos tosados, patinetes - e de
gente alegre, querendo tomar um pouco de sol em suas peles leitosas. Não sei de
onde saem tantas pessoas sorridentes: não é a mesma Genebra! Onde foi parar a
cidade cinzenta e quase deserta que se via há alguns poucos meses? Vai ver que
foi dobrada e guardada bem no fundo do armário de São Pedro, de onde sairá, molhada e gelada, no próximo dezembro, espantando o coro dos contentes de volta para suas casas e
lareiras.
Felizmente!
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