22 abril 2012

5. O MITO CICLÍSTICO

Bicicletas são ótimas. Já os ciclistas....

Antes que meus amigos ciclo-evangelistas me desanquem, deixo claro desde já que sou totalmente a favor das bicicletas mas com os ciclistas eu ando implicando desde a minha vinda para esta cidade de trânsito complicado.

Imaginem uma rua com quatro pistas, na qual duas são reservadas para ônibus e táxis, deixando para os carros e demais veículos apenas uma pista em cada sentido. Isso seria tolerável se houvessem rotas alternativas, ruas paralelas ou outra saída. Não há: todo o tráfego tem de fluir por aquela via, sem choro. Imagine agora que essa rua liga um dos lados da cidade ao outro, separados pelo lago e por apenas duas pontes: é como uma ampulheta com areia grossa.

Coloque na mistura uma faixa de pedestres a cada quadra e note que todo o trânsito para completamente nos dois sentidos quando uma pessoa coloca o pé na faixa, o que, em alguns lugares como na frente de supermercados, é uma vez a cada meio segundo.

Em cima de tudo isso, acrescente agora uma ciclovia de cada lado dessa rua. Quando, depois de tudo, o trânsito começa finalmente a andar, um ciclista na extrema direita resolve dobrar na rua à esquerda. O folgado simplesmente aponta com o braço naquela direção e vai indo, sem nem olhar para trás – e todos os outros veículos - ônibus, carros, motos, tudo – emperra novamente para o ciclista calmamente cruzar quatro pistas engarrafadas e dobrar onde queria. Leeeentamente.

Para terminar, imagine uma fila inteira de ciclistas querendo fazer a mesma coisa. Terrível, mas eles conseguem dificultar ainda mais, vindo separados por uns 10 metros uns dos outros, de modo a que exatamente quando um carro começa a se mover tenha de parar de novo para o próximo ciclista. É uma maravilha da civilização que não aconteçam a toda hora atropelamentos de bicicleteiros por motoristas à beira de um ataque de nervos.

Se alguém perde a santa e incompreensível calma e reclama, ainda vai ouvir o ciclista comentar para o seu selim: “nossa, como motoristas são estressados!”

Sou mesmo. E olha que eu nem dirijo mais! Nem tenho horários rígidos para obedecer e tampouco motivos para ter qualquer pressa. Pura rabugice, eu sei, mas pelo que descrevi dá para ver que é engano acreditar que as bicicletas facilitam o trânsito. Puro mito urbano.

Posso pensar em vários outros mitos com relação a essas rodas engrenadas. Veja alguns.

Bicicletas são saudáveis. Nada disso! Depois de uma boa bicicletada o ciclista acaba comendo muito mais por ter o apetite aumentado pelo esforço inumano de pedalar. E como está cansado, tende a ficar sentado ou deitar para descansar, sem queimar as calorias da refeição reforçada. De onde se tira: bicicleta engorda!

Bicicletas são “naturais”.. Alguém já viu algum outro ser vivo ficar sentado enquanto corre?

Bicicletas são aprovadas por médicos. É verdade: ortopedistas e traumatologistas.

Bicicleta não polui. Errado! Você já teve sentar para trabalhar ao lado de uma pessoa que veio de casa pedalando – e mora a 20 quilômetros do escritório? Ou ficar em uma sala de aula sem ventilação, no verão, ao lado de um ciclista empedernido? Poluição é pouco para descrever a catinga, geralmente piorada com umas borrifadas de desodorante Axé.

Bicicletas são um meio de transporte muito prático. De onde tiraram isso? Em Genebra, como em Curitiba, os dias de chuva são muitos, revezando com dias de garoa e vento. Muito práticas as bicicletas nesses dias. Os que ainda assim insistem em sair de bicicleta viram um perigo maior ainda, pois têm de pedalar cheios de capas, capuzes e galochas. De capuz fica mais difícil ainda adivinhar de onde virá o próximo carro, que pode estar realmente próximo. Guardar uma bicicleta em casa, então, é muito prático! Basta subir nove andares pela escada com ela e estacionar bem no meio da sala, de onde o sofá teve de ser removido para dar lugar às duas rodas. Se a sua família for toda de ciclistas provavelmente as camas também terão de sair para dar espaço para as bykes no ap.

Bicicletas são seguras. Ah, é? Com a velocidade e a falta de um para-brisa, insetos entram no olho do ciclista e chegam até a retina, passando por lentes de contato e tudo. No verão as gotas de suor pingam no seus olhos, queimando a córnea e tirando a visão por preciosos segundos. No inverno são a garoa e o vento gelados que atrapalham a visibilidade, alem de enrijecer a musculatura. Um fato é certo: não existe ciclista que nunca caiu, nem que nunca vai cair de novo, pois todos têm um tropismo pelo chão.

Bicicletas são silenciosas. Os ciclistas hoje andam com seus ipods plugados e não ouvem buzinas e alertas, levando os motoristas a buzinar e berrar mais alto ainda, aumentando a poluição sonora.

Enfim, carros são ruins, motos são perigosas, metrôs são caros, ônibus são cheios, bicicletas são tudo isso que mencionei. Como ir e vir?

Sobram charretes e carroças, mas são puxadas por cavalos - que relincham, mordem e derrubam montanhas de capim aromático processado na rua. Por último, resta o pé-dois, que cansa demais, é demorado, gasta solas e causa bolhas.

Assim, prego uma cidade sem qualquer meio de transporte. Todo mundo em casa, sem sair! Aí todos, reclusos e isolados, poderiam pedalar suas ergométricas na segurança e no conforte do seu lar, pensando sobre os problemas do mundo e ranzinzando para o bem da humanidade, como eu.

 * leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo

2 comentários:

  1. kkkk! fantastico! eu como ciclista comuteiro que moro a exatos 20km do trabalho, chego la suado imundo e atrasado... porem tao relaxado que nem fico preocupado em.... trabalhar...rs

    Valeu Toninho!
    []s
    BR

    ResponderExcluir
  2. Hola Antonio
    Nao sabia q era eximio escritor e filosofo!! Coincido contigo sobre a bicicleta, reforca meu entendimento de nao pedalar... Mas ultimamente as motos estao regendo as vias publicas, um problema ainda maior e sempre aos bandos! Aguardi no futuro suas reflexoes sobre essa verdadeira ameaca
    Abs
    Pedro




    Pedro

    ResponderExcluir