Houve um tempo em que a expressão
"educado em colégio suíço" era sinônimo de uma educação completa,
tanto nos aspectos referentes aos estudos propriamente ditos, quanto de uma formação
complementar, que envolvia especialmente habilidades de convívio social e de
comportamento adequado a cada ocasião, o
"fino trato" que significava que uma pessoa era educada, não
somente instruída.
Hoje em dia, no Brasil, onde a
educação anta tão desacreditada, aquela expressão virou recurso para o sarcasmo
e a repreensão. Por exemplo, quando um jovem se
comporta mal à mesa, fazendo barulhos de esgoto ao comer, emporcalhndo a toalha e tomando refrigerante no bico, se arrisca a ouvir de uma pessoa ofendida com esse
comportamento:
- Foi educado em colégio suíço,é?
- Foi educado em colégio suíço,é?
Não sei se ainda existe, de
fato, uma admiração pela formação em escolas suíças; poucos devem saber que ela
é, ou foi, uma referência mundial para a qualidade ediucacional. Sei, no entanto, pela observação,
que os suícos ainda acreditam no valor da educação não formal. Aqui se ofertam -
e são exigidos - cursos para tudo. Nada de ir fazendo o que te der na telha: antes de qualquer
coisa vai ser preciso fazer algum curso.
Você gostaria de pescar no lago
ou nos rios do cantão? Você vai precisar de uma licença e para obtê-la você terá
de fazer três cursos: um mais geral sobre ecologia e proteção ao meio ambiente,
outro sobre a legislação vigente, normas e regulamentis para a pesca amadora e
um terceiro sobre as espécies que você pretente pescar e sua preservação.
Você quer dirigtir? Mais cursos,
com mais lenga-lenga do que no Brasil (se você acredita que é isso é possível).
Abrir um boteco? Curso. Ser bilheteiro de cinema? Vários cursos. Levar o
cachorro para passear? Uma porção de cursos terá de ser feita – e com bom
aproveiamento.
Por falar em cachorro, ter um
cachorro na Suíça, e mais ainda no cantão de Genebra, dá um trabalho do cão (não
resisti…). É tudo super regulamentado: além de ter um chip Implamtado sei lá em
que parte do corpo, o cachorro tem de andar com duas plaquinhas, uma com nome e
endereço e outra com o número da licença. Esta plaquetinha pode ser de lata ou
de plástico, mas vale ouro puro, porque para recebê-la você e seu cão deverão
fazer não um, mas quarto cursos!
O primeiro é só para os donos. É
ofertado como curso de “sensibiliização” , mas deveria ser chamado de “aporrinhação”.
Um monte de papo-furado sobre direitos caninos, bons tratos e leis de proteção
aos animais. Claro que estes têm seu direitos – longe de mim negar isso, logo
eu que amo todos os animais, gatos
e moscas excluídos. Mas, com ou sem direitos, continuam sendo animais e
não gente. Essa pequena distinção parece ter escapado aos docentes daqueles
cursos obrigatórios. Quem os ouvir, se não tiver sido avisado de antemão, vai
pensar que eles se referem a crianças famintas, maltratadas e abandonadas, e
que seus pais, digo, donos, são todos potenciais cachorrófobos agressivos e
perigosos.
Bem, depois de 4 horas dessa
tortura, vai ser preciso ir mais cinco vezes ao local da capacitação, agora
acompanhado de seu filho, quer dizer, do seu cão. Quatro vezes para um curso de
uma hora por dia para educação básica do pimpolho: “senta”, “deita”, “fica”, “vem”,
e outros comandos essenciais. Senti falta do “caga” e “recolhe”, poia aqui em
toda esquina tem (gratis) saquinhos para você recolher as minas que os
cachorros vão plantando no caminho, sob pena de pesada multa. Mesmo com essa
ameaça vêem-se cocos na rua, mas sempre no meio de moitas e cercas-vivas, para
onde algum dono preguiçoso os chutou quando ninguém estava olhando.
Nessa linha, logo vão estar exigindo que a cachorrada diga "por favor", "dá licença" e "muito obrigado"...
A quinta visita será um
teste de obediência (do cão), se ele não estiver entre as 15 raças banidas do cantão, como
filas brasileiros, pitbulls, rottweilers e mastins. Estranhamente, dobermans,
pastores alemães e belgas são permitidos. Essa lista foi resutado de dois
plebiscitos: o primeiro decidiu pelo banimento de cães perigosos e pela proibição
completa de sua importação; o segundo decidiu as raças que seriam banidas. Pelo
jeito os donos de dobermanns e pastores se mobilizaram para impedir que estas
raças fossem banidas, mas não posso afirmar isso. Eu votaria pela exclusão de yorshires, lahsas e chiuahuas, muito perigosos para a calma universal.
Só sei que é muito curso e muita
regra para se ter um cachorro por estas bandas. Não se pode de maneira alguma
ensinar o seu cão a ciudar da casa, do carro ou de qualquer objeto ou pessoa (cães
de guarda aqui não existem). Pior: não se pode permitir que seu cachorro faça
coisas instintivas como latir para estranhos, correr atrás de gatos e outros
bichos e dar aquela tradicional mijadinha nos postes. Não sei como conseguem
isso!
Penso que as pessoas que criaram
todas essas regras não podem gostar de seus animais – querem é controlá-los,
curtem mandar neles e exercer poder sobre algum ser vivo. Devem ser chatos prá cachorro (não
resisti, de novo).
O cão de uma pessoa dessas é o
seu melhor amigo por uma razão bem simples: é o único!
* leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo
* leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo
Toni, estou tendo uma idéia de um novo empreendimento. Que tal um manual de ensino a distancia para proprietários de cães interessados. Em uma educação Suíça?? Vai pensando entre uma alface cozida e outra...
ResponderExcluirSimão, que maravilha de texto, me rachei de rir kkk. Mas, claro, depois que me contive pude me sensibilizar e sentir sua revolta hehe. Abração e continue postando!
ResponderExcluirMarcão