03 junho 2012

9. INVENÇÕES SUÍÇAS.

Etnocêntrico, nos ensina seu Aurélio, é quem pensa que o mundo gira em torno do seu povo. Os suíços são um povo que tem certeza disso.
Para provar para si mesmos essa noção, escolheram viver no centro da Europa (sem contar a Rússia, um pequeno detalhe esquecido) e cá está a Suíça, o umbigo da Europa ocidental. Cheia de suíços grudados nele como um piercing, pensando ser o coração...
Assim como os umbigos, é pequena, está cercada de montanhas, é resquício de algo que foi importante mas hoje não é mais – e quem olhar lá dentro vai sempre encontrar alguma sujeirinha escondida.
Digo isso porque os suíços inventaram a conta bancária anônima, a prova definitiva que fortunas não têm nome – mas tem dono e deixam uma sobrinha boa para quem as guarda em nome dos que preferem não ter nome.
Este é um bom exemplo da forma suíça de agir: eles não são tão bons em inventar coisas, mas são ótimos em aprimorar as invenções dos outros. Veja só, os suíços:
· não inventaram o relógio - mas inventaram o relógio cuco.
· não inventaram a faixa de pedestres – mas inventaram os pedestres que atravessam na faixa.
· não inventaram o queijo – mas sim o buraco do queijo e o queijo derretido.
· não inventaram o cacau, nem o açúcar, nem o leite, nem mesmo o chocolate – mas inventaram o chocolate suíço e suas deliciosas versões com sal e com pimenta.
· não inventaram o canivete, mas sim a oficina mecânica dentro de um canivete.
· não inventaram a vaca, mas inventaram a sineta (cincerro) alpina.
· não inventaram o café nem a água – criaram o café solúvel.
· não inventaram o trem, mas sim o trenzinho elétrico.
· não inventaram a batata frita, mas aproveitaram aparas e sobras de molhos para inventar a batata suíça (a bem da justiça registre-se que eles não inventaram o “kreps” suíço).
Os exemplos são muitos e me levam a acreditar que uma pesquisa cuidadosa poderia revelar que outras coisas foram inventadas ou aprimoradas por eles a partir de coisas inventadas por povos menos empreendedores. Tais como:
· a cor cinza (que recobre todas as suas cidades)
· o pratinho de pendurar na parede
· a cruz vermelha, a cruz verde, a cruz azul, o crescente vermelho e a cruz branca, que teve de ser posta sobre fundo vermelho (testaram antes a cruz branca em fundo branco mas ficou meio sem graça até para eles mesmos).
· o exército pacífico e neutro (contradição em termos?)
· o bom selvagem, no qual acreditavam até terem dois missionários comidos pelos tupinambás, que descobriram assim o bom suíço.
· os estacionamentos subterrâneos de vários andares circulares, tipo parafuso – que fazem com que ao sair deles ninguém saiba para onde está virado, causando problemas no trânsito.
· a ciclovia no centro da rua, para os ciclistas poderem atrapalhar as duas mãos ao mesmo tempo.
· os túneis quilométricos ligando o nada a coisa nenhuma, por debaixo de montanhas  cortadas por belas rodovias.
· o cachorro que anda sozinho de ônibus (fala-se em um gato que anda sozinho de bicicleta)
· o sinal de trânsito que fica sempre no vermelho - e o que fica ligado simultaneamente no vermelho, amarelo, verde e branco.
·  s rígidas regras de silêncio e, quem sabe, o próprio silêncio.
Fico por aqui por falta de espaço no blog, mas não antes de relatar o melhor exemplo do modo suíço de inventar.
George de Mestral gostava de levar seu cachorrinho à caça mas aquele tirar-e-por de coleira no doguinho o cansava. Um dia, em 1948, George se irritou também com a quantidade de pico-pico grudado nas suas roupas e no pelo do cachorro. Ele pensou, pensou, juntou observação e aplicação - e estava inventado o velcro.
Em suma, um pico-pico sintético - devidamente patenteado, é claro. Riiiip!


* leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo

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