Etnocêntrico, nos ensina seu
Aurélio, é quem pensa que o mundo gira em torno do seu povo. Os suíços são um
povo que tem certeza disso.
Para provar para si mesmos essa
noção, escolheram viver no centro da Europa (sem contar a Rússia, um pequeno
detalhe esquecido) e cá está a Suíça, o umbigo da Europa ocidental. Cheia de
suíços grudados nele como um piercing, pensando ser o coração...
Assim como os umbigos, é
pequena, está cercada de montanhas, é resquício de algo que foi importante mas
hoje não é mais – e quem olhar lá dentro vai sempre encontrar alguma sujeirinha
escondida.
Digo isso porque os suíços
inventaram a conta bancária anônima, a prova definitiva que fortunas não têm
nome – mas tem dono e deixam uma sobrinha boa para quem as guarda em nome dos
que preferem não ter nome.
Este é um bom exemplo da forma
suíça de agir: eles não são tão bons em inventar coisas, mas são ótimos em
aprimorar as invenções dos outros. Veja só, os suíços:
· não
inventaram o relógio - mas inventaram o relógio cuco.
· não
inventaram a faixa de pedestres – mas inventaram os pedestres que atravessam na
faixa.
· não
inventaram o queijo – mas sim o buraco do queijo e o queijo derretido.
· não
inventaram o cacau, nem o açúcar, nem o leite, nem mesmo o chocolate – mas
inventaram o chocolate suíço e suas deliciosas versões com sal e com pimenta.
· não
inventaram o canivete, mas sim a oficina mecânica dentro de um canivete.
· não
inventaram a vaca, mas inventaram a sineta (cincerro) alpina.
· não
inventaram o café nem a água – criaram o café solúvel.
· não
inventaram o trem, mas sim o trenzinho elétrico.
· não
inventaram a batata frita, mas aproveitaram aparas e sobras de molhos para
inventar a batata suíça (a bem da justiça registre-se que eles não inventaram o
“kreps” suíço).
Os exemplos são muitos e me
levam a acreditar que uma pesquisa cuidadosa poderia revelar que outras coisas
foram inventadas ou aprimoradas por eles a partir de coisas inventadas por
povos menos empreendedores. Tais como:
· a
cor cinza (que recobre todas as suas cidades)
· o
pratinho de pendurar na parede
· a
cruz vermelha, a cruz verde, a cruz azul, o crescente vermelho e a cruz branca,
que teve de ser posta sobre fundo vermelho (testaram antes a cruz branca em
fundo branco mas ficou meio sem graça até para eles mesmos).
· o
exército pacífico e neutro (contradição em termos?)
· o
bom selvagem, no qual acreditavam até terem dois missionários comidos pelos
tupinambás, que descobriram assim o bom suíço.
· os
estacionamentos subterrâneos de vários andares circulares, tipo parafuso – que
fazem com que ao sair deles ninguém saiba para onde está virado, causando problemas
no trânsito.
· a
ciclovia no centro da rua, para os ciclistas poderem atrapalhar as duas mãos ao
mesmo tempo.
· os
túneis quilométricos ligando o nada a coisa nenhuma, por debaixo de
montanhas cortadas por belas
rodovias.
· o
cachorro que anda sozinho de ônibus (fala-se em um gato que anda sozinho de bicicleta)
· o
sinal de trânsito que fica sempre no vermelho - e o que fica ligado
simultaneamente no vermelho, amarelo, verde e branco.
· s rígidas regras de silêncio e, quem
sabe, o próprio silêncio.
Fico por aqui por falta de
espaço no blog, mas não antes de relatar o melhor exemplo do modo suíço de
inventar.
George de Mestral gostava de levar seu cachorrinho à caça mas aquele tirar-e-por
de coleira no doguinho o cansava. Um dia, em 1948, George se irritou também com
a quantidade de pico-pico grudado nas suas roupas e no pelo do cachorro. Ele
pensou, pensou, juntou observação e aplicação - e estava inventado o velcro.
Em suma, um pico-pico sintético - devidamente patenteado, é claro.
Riiiip!
* leia abaixo as crônicas anteriores ou no Arquivo
Agora estou mais sabida... Obrigada! tia Eny
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