09 agosto 2012

16. Hoje é terça, deve ser a Bélgica!

Muitos turistas brasileiros não se tocam que estão em outras terras, com outra cultura e outros costumes. Não são todos, é claro, mas muitos vêm para a Europa sem qualquer noção de onde estão ou do que esperar dos países que visitam, às vezes no ritmo de um por dia: “Hoje é terça, deve ser a Bélgica” é o titulo de um velho filme que me veio agora à cabeça.

A maioria quer tirar fotografias, posando em frente a monumentos e edificações famosas, produzindo e colecionando provas documentais de que realmente passaram por lá, para depois poder mostrar para os amigos – de preferência para os que ainda não puderam fazer a mesma viagem.

- Olha eu aqui, bem naquele castelo... como era mesmo o nome, amor? Foi na Alemanha ou em Berlim?
- Onde era eu não me lembro, querida...  mas lembro que era um castelão de pedra, meio medieval e tudo!

Por isso eu não consigo enxergar a relação (que muitos dizem que existe) entre turismo e cultura. Viajar pode ser só sair de seu pais e voltar carregado de bugigangas, sem ter mudado nada. Visitar uma biblioteca não desperta, por si, a vontade de ler.


Estava eu tranquilamente tomando um refri na beira do lago quando minha paz foi interrompida pela chegada de uma excursão – ó vida – de brasileiros. Ouvi uma senhora responder para alguém que tinha perguntado o que ela gostaria de beber:
- Eu tomo qualquer coisa, não quero incomodar, não... um suco, pode ser, de goiaba ou maracujá mesmo...

E uma outra dizendo para as companheiras:
- Vamos ver se naquela banca lá adiante tem coxinha ou um pastelzinho?

Pensam que é brincadeira? Não é, não. Juro e perjuro que é verdade.

Vi um senhor comprando para levar para o filho uma camiseta branca com a frase “Eu estive em Genebra” estampada no peito, sobre um desenho do jet d’eau em vermelho. O homem me pegou olhando e gentilmente ofereceu:

- Leve uma dessas para o seu filho também, ele vai gostar! Estão duas por 10 francos... a gente pode rachar. Por que não aproveita?
- Acho que não, obrigado - eu disse, caindo fora antes de ceder à vontade de responder:
- Não levo porque se eu pego meu filho usando uma dessas, tiro no tapa! Pensando melhor, se eu desse um desses horrores de presente, eu é que levaria os tapas – e merecidamente.

Eu sempre me surpreendo ao ver como os turistas, ao chegarem depois de quatro horas de viagem, a uma vilazinha suíça “típica”, são capazes de passar quinze minutos visitado o local e duas horas nas lojinhas que se amontoam na praça central, onde são vendidas vaquinhas de cerâmica made in china, canivetes, relógios de marcas famosas que ninguém conhece, tocas de lã com orelhas felpudas, pratinhos com o Matterhorn em relevo dourado e mais canivetes. Ainda não vi um relógio-cuco de pulso, mas deve ter um por aí, esperando para ser comprado por um brasileiro.

Cansados mas contentes com as aquisições, suas memórias mais leves por já terem esquecido por onde passaram, os excursionistas voltam para sua base em seu hotel em Genebra, com os quilos de chocolate que compraram logo no início do dia.

É bem fácil saber onde estão hospedados: basta seguir o rastro de chocolate. As lindas barras obviamente não agüentam o calor infernal no ônibus e tentam escapar das sacolas e mochilas, pingando por todos os vãos e costuras.

Mais tarde, devidamente banhados e arrumados (dando um descanso para as suadas camisas da seleção) os turistas canarinhos resolvem cair na noite genebrina. No início, saem procurando um bom lugar para comer um fondue, beber um vinhozinho, ouvir uma musiquinha e quem sabe até dançar. A noite de domingo promete!

Depois de três horas vagando pelas desertas ruas da cidade, sem achar nada (nada mesmo) aberto, já estão dispostos a comer um cachorrão no carrinho da esquina, engolido com cerveja quente, mas o cachorreiro – como todo mundo aqui - não trabalha no domingo.

O jeito vai ser comer as bolachinhas secas que foram dadas na excursão e guardadas na bolsa para uma emergência como essa. Para beber, compartilhando o único copo plástico, água da torneira, branca e com gosto de giz. Estão com sorte: essa, pelo menos, sai bem gelada!

3 comentários:

  1. Acho que mereço crédito por essa crônica pois sou péssima em geografia e adoro as lojinhas de bugigangas próximas dos pontos turísticos culturais - aliás, é só o que gosto nestes locais. A diferença é que também não gosto das camisetas "estive em ....". Mas Antônio, por favor, se você encontrar um relógio-cuco de pulso, COMPRA PRA MIIIIIMMMMMMM!!!!

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  2. tudo verdadeiro! mas, o que mais apreciei foi o comportamento dos turistas e suas máquinas fotográficas. olham o mundo através do quadradinho da máquina. gosto de uma piada sobre o assunto: "japonês voltou de viagem e perguntam a ele como foi a viagem. ao que ele responde: não sei, ainda não revelei as fotos."
    abç, mc

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  3. vc tah falando da minha mãe hein....essa turista do chocolate é a D Fátima que eu conheço, as vaquinhas eu já ganhei ano passado... ve se manda ela comprar o meu capacete com a bandeira da frança...

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